Padre Lucas Altmayer, 28/11/2025 09:46
Se, em cada tempo do ano litúrgico, celebramos os mistérios da nossa Redenção, hoje, último domingo do ano litúrgico, lembramos o fim do mundo.
O mundo tal como o conhecemos terá um fim. Não sabemos o dia nem a hora, mas ele terminará. Existem dois tipos de fim do mundo: o fim do meu mundo , isto é, da minha vida, e o fim do mundo propriamente dito, isto é, deste mundo que já não existirá mais.
Diversas vezes Nosso Senhor Jesus Cristo fala desse fim e nos pede para estarmos preparados. Este dia, do qual ninguém sabe a data nem a hora, virá como um ladrão sorrateiro que entra numa casa durante a noite. Virá como um noivo, durante a noite, enquanto dormem os fracos vigias. Vigiai e orai, eis o conselho de Nosso Senhor , pois não sabeis o dia nem a hora.
Falamos do fim do nosso mundo, de nossa vida, quando celebramos a memória dos fiéis defuntos, no dia 2 de novembro. Nesta ocasião lembramos a importância de não nos apegarmos aos bens deste mundo; que tudo é vaidade; que todos morreremos, cedo ou tarde, e compareceremos diante do Divino Juiz de nossas almas.
Hoje, neste último dia do ano litúrgico, a Igreja nos lembra que também o mundo terá um último dia. Isto está muito claro no Evangelho de hoje
O dia do fim do mundo será um dia de grande aflição, como nunca existiu na face da terra, diz Nosso Senhor. Será um dia em que todos os homens olharão para o céu e verão o sinal do Filho do Homem, isto é, a sua Cruz, e tremerão ao perceber que perderam o tempo desta vida por não terem conformado sua existência ao mistério da Cruz e da Ressurreição do Senhor. Este dia será pavoroso: os bons serão separados dos maus pelos anjos de Deus, e cada um prestará contas de todas as suas obras.
Haverá grande tribulação e, depois disso, sinais naturais manifestarão o fim: o sol perderá seu brilho, a lua já não dará luz e as estrelas cairão do céu.
Falsos profetas e falsos cristos aparecerão. Nos fins dos tempos, muitas doutrinas novas surgirão; muitos dirão falar em nome de Deus, dizendo ser o Cristo enviado. Estes falsos cristos e falsos profetas terão grande poder, farão prodígios e enganarão uma multidão de fiéis. Serão dias de grande apostasia.
O dia do fim do mundo coincidirá com a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este dia é chamado Parusia. A Parusia era o nome dado à visita solene do Imperador às províncias de seu império. Assim também, como um Imperador, Nosso Senhor virá em glória e majestade, como diz o Evangelho de hoje, visitar o seu povo, julgar os homens e dar a cada um segundo suas obras. Recordemo-nos da belíssima e pavorosa sequência da Missa de Exéquias, o Dies Irae:
Dia da ira, aquele dia em que os séculos se desfarão em cinzas. Quanto terror haverá no futuro, quando o Juiz vier para julgar a todos irrestritamente!
Dia tremendo, de espanto e pavor sim, mas não para todos.
Gostaria de chamar a atenção para outro detalhe da Missa de hoje. Se ao mesmo tempo Jesus diz, no Evangelho, que o dia do fim do mundo será um dia de grande aflição, a Santa Igreja canta na Antífona de Entrada: “Diz o Senhor: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição.”
Os pensamentos de Deus são de paz, não de aflição. Mas o fim do mundo será um dia de aflição como nunca houve. Como conciliar isso?
A solução é simples: existem pessoas que tremerão, chorarão e se angustiarão ao ver o Senhor retornar. Há outras, entretanto, que não. Há quem, ao pensar no fim do mundo, se desespere porque sabe que naquele dia terá de prestar contas a Deus. Outros, porém, encontrarão esperança e consolo, porque buscaram viver unidos a Deus nesta vida.
Os pecadores obstinados, que vivem confortáveis no pecado, que não pensam em Deus, que não querem arrependimento nem vida nova, estes tremerão de medo. Todos os que lutaram contra Deus — pública ou secretamente — estarão apavorados. Os que vivem como se Deus não existisse, como se céu e inferno fossem fábulas, como se nada fosse pecado, como se a amizade com Deus fosse impossível — todos estes chorarão ao ver que tudo era verdade.
Todos os abortistas, que parecem vencer com suas ideologias; todos os defensores obstinados das falsas religiões, seitas, ideologias, imoralidades e abominações que hoje triunfam; todos estes desesperar-se-ão diante da Cruz gloriosa que brilhará no céu.
Os inimigos de Deus podem até ganhar batalhas nesta sociedade; podem vencer eleições, estabelecer leis iníquas, assumir cargos importantes, perseguir os bons e a Igreja. Mas, ao ver o Senhor retornar em glória, tremerão como galinhas medrosas, chorando por terem renunciado ao Reino de Cristo.
Haverá, entretanto, aqueles que terão motivos de esperança: pessoas para as quais esse dia será de alegria, como amigos que se reencontram depois de muito tempo. Alegrar-se-ão ao ver a justiça restabelecida e a ordem divina triunfar.
Aqueles que já morreram — para quem o fim do mundo já chegou — são os que viveram o seu Batismo. Para cada batizado fiel, o mundo já acabou. Este mundo sem Deus já não é sua pátria; vive-se para Deus. Quem vive sua união com Deus já possui a vida eterna no coração.
Por isso São Paulo, na epístola de hoje, fala da beleza de viver longe das trevas e na graça. Quem vive na graça não precisa temer: o dia do fim será dia de amizade, de encontro e de alegria, e viveremos eternamente com Aquele a quem tentamos servir nesta terra.
Se conformamos nossa vida à Cruz e à Ressurreição, quando o fim chegar diremos apenas: “Enfim! Viverei eternamente aquilo que a graça me fez buscar nesta vida: a união com Deus.”
Eis nossa finalidade neste mundo: viver a união com Deus, já aqui, pela graça. Repito: podemos começar a viver a vida eterna aqui e agora, pela união de nossas almas com Deus. Cristo derramou até a última gota de seu Preciosíssimo Sangue para nos unir a Deus não só após a morte, mas já hoje.
Meus amigos, se vivermos na amizade com Deus, não teremos medo de nada, pois já teremos ganho tudo. Se o Senhor nos encontrar como seus amigos, veremos cumprir-se em nós o que diz o Apocalipse: “Estes são os que venceram a grande tribulação.” Não tenhamos medo! Vivamos com coragem nossa vida com Deus.
Meus amigos, acabou o ano litúrgico. Domingo que vem é Advento. Preparemo-nos intensamente para celebrar o Natal de Nosso Senhor, Sua primeira vinda, enquanto aguardamos a Sua vinda definitiva: a Sua Parusia.